Vou
entrar no conceito geral dos
distúrbios
dissociativos.
Estes distúrbios representam um conjunto de alterações psicológicas em
que a função psíquica se “desliga” do resto de consciência deixando de
existir um control voluntário do sujeito “self”, ficando essa função
dissociada do funcionamento que faz parte integrante da actividade
mental. Pode-se considerar um processo psicológico muito vulgar e de
certa utilidade na vida diária. Temos como exemplo, não ouvir o que
dizem por estar excessivamente concentrados numa outra tarefa. A
dissociação da consciência pode ser um mecanismo de defesa desadequado e
neurótico subjacente a doenças mentais mais ou menos graves.
Um
tipo comum de distúrbio dissociativo é:
A
Amnésia
Histérica
Este
tipo de amnésia consiste na incapacidade de recordar períodos de vida,
acontecimentos, enfim vivências que foram traumáticas. O indivíduo não
as quer reviver nem na memória, pois é a melhor forma de se poupar a
profundos sofrimentos angustiantes, a conflitos torturantes a elas
associados. Quando a amnésia histérica atinge formas mais graves a
pessoa fica mesmo incapaz de recordar o seu nome, mas ainda consegue
falar, ler e adquirir novos conhecimentos.
Não
confundir amnésia histérica com uma mentira patológica, porque a
primeira resulta de mecanismos inconscientes, enquanto a segunda não
passa duma falsa simulação.
Outros
distúrbios dissociativos são especialmente a fuga psicogénica e a
personalidade múltipla.
Para
avançarmos um pouco mais esclareço muito resumidamente o conceito
psicológico de:
Personalidade
Múltipla
É
importante salientar que este tipo de personalidade não deve ser
confundida, o que por vezes acontece, com as vítimas do distúrbio
esquizofrénico. Também é de considerar, tendo como grande referência a
American Psychiatric Association, saber distinguir a esquizofrenia dos
distúrbios de personalidade esquizóides e esquizotípicos e personalidade
múltipla embora se vivenciem na actividade comportamental algumas
semelhanças, mas há diferenças fundamentais, pois estes não apresentam
delírios, alucinações e incoerências assustadoras de pensamento.
Passemos
agora finalmente a resumir as características da personalidade múltipla.
Distúrbio
raro de dissociação da consciência em que o indivíduo revela duas ou
mais personalidades distintas que alternam em períodos diferentes. As
personalidades são quase sempre muito diferentes entre si: com
frequência totalmente opostas (entre si) e revelando tendências e
impulsos inconscientes contraditórios, sempre em conflito, e que o
indivíduo não conseguiu resolver de forma integrada e harmónica num
funcionamento único. As personalidades podem não ter conhecimento umas
das outras, mas há consciência de lapsos de memória e de tempo e
períodos de amnésia em cada uma delas. O tratamento destas formas
graves, mas muito raras, de histeria passa por uma terapêutica
psicanalítica.
Posso-vos
relatar dentro dos exemplos conhecidos sobre o distúrbio de
personalidade múltipla, o mais relevante que conheço que é sobre Eva
Black ou Eva White, etc, pois conseguiu desdobrar-se em 22
personalidades. Esta mulher sofria de tremendas dores de cabeça,
seguidas de estados de inconsciência. De nada se queixava de anormal,
até que um dia tentou estrangular a própria filha e decidiu
consequentemente pedir auxílio. Veio à Luz um dos mais famosos casos de
personalidade múltipla. No início da terapia o médico ficou espantado
quando subitamente a sua paciente que se manifestou como uma mulher
modesta e apagada se tornou numa outra pessoa.
Fechou
primeiro os olhos, apertou a cabeça e de repente os olhos abriram-se e a
apagada personagem surge com um sorriso perfeitamente descarado e
provocatório e diz para o médico: “Olá Doutor! Ela tem passado uns maus
bocados! Dá-me um cigarro doutor?”. Essa “Ela” era a própria Eva
sofredora. O médico perguntou-lhe quem era ao que ela respondeu: Eva
White. Estas duas e mais outra eram as que podiam coexistir
simultaneamente no espírito da doente. Quando estas três morriam outras
três surgiam. Tomou vários nomes e em cada uma manifestava uma
personalidade diferente. Com a psicoterapia adequada foi tomando
consciência das variadas personalidades que assumia e um dia
inesperadamente descreve ao médico que as suas múltiplas personalidades
eram como “um mecanismo de defesa próprio que a levou a criar pessoas
satélites para enfrentar conflitos insuportáveis”.
No
fim do tratamento a última personalidade (22ª) a de Chris Sizemore que
era o verdadeiro nome de Eva surge... Depois de profundamente
investigado este caso, quase único, os psicólogos concluíram que o
distúrbio pode provir de crueldades sexuais ou mentais, ou as duas
simultaneamente sofridas pela vítima em criança. Este distúrbio é a
forma extrema dos estados dissociativos, é extremamente raro, e exige um
diagnóstico profundamente cuidado. É dissociativo porque o “Eu” pode
dissociar-se, ou separar-se em subpersonalidades ocultas do consciente.
Nunca pode ser uma fraude este fenómeno, como alguns quiseram contestar
porque as pessoas normais não conseguem simular ondas cerebrais
diferentes.
Estranhos
fenómenos com que a natureza humana se debate!
Uma
nova modalidade dos distúrbios dissociativos é a
Fuga
Psicogénica,
e sem dúvida é um distúrbio dos mais graves, por agravamento, e sem
tratamento adequado. É uma forma de alteração da consciência, em que o
indivíduo abandona repentinamente a sua casa ou o seu local de trabalho,
assumindo uma nova identidade e não recordando a anterior. Neste
distúrbio tão grave são frequentes as mudanças incompreensíveis de
humor, sentimentos confusos em que prevalecem a hesitação, a indecisão,
sem saber como resolver-se numa perplexidade e desorientação sem
controle, alterações do comportamento, uma tremenda instabilidade,
alucinações e após a recuperação da consciência, não existe a mínima
recordação dos acontecimentos ocorridos (é chamada amnésia lacunar).
A
fuga pode durar horas ou dias. Numa fuga de longa duração o
comportamento ao longo dos lugares por onde passa pode parecer a quem o
contacta normal, mas na sua realidade intrínseca, nas suas vivências
interiores podem acompanhá-lo alucinações, e outros sintomas
desagradáveis como sensações de irrealidade ou uma profunda
instabilidade emocional. Numa fuga que dure apenas algumas horas o
indivíduo manifesta-se extremamente confuso e agitado. As causas são
naturalmente distúrbios de personalidade com predominância dos
distúrbios dissociativos, certos tipos de epilepsia (especialmente
epilepsia do lobo temporal ou psicomotora), depressão, traumatismo
craniano ou demência.
Tudo
tão friamente científico!!!... Mas a vertente humana nos mostra que
quando somos lançados no caos humano geralmente não estamos nestas
situações de distúrbios e confusões. São as nossas vivências, os
desencontros provocados na formação inadequada à nossa personalidade
real, dando a cada um o que é o certo e o adequado como nutrientes
salutares para um crescimento psíquico saudável em sintonia com o nosso
Ser essência. Tal como diz Yung “nascemos com uma personalidade una”,
mas pressão daqui, pressão de acolá no turbilhão existencial duma
humanidade onde a ignorância dos complexos mecanismos psíquicos é quase
uma constante, os valores do ser que é colocado neste conturbado planeta
vão-se afastando da sua verdadeira realidade, do seu real “Eu” e vão
surgindo lenta e gradualmente uma multiplicidade de pequenos distúrbios
que vão tomando dimensão, se não forem cuidados no seu devido tempo. As
cargas hereditárias também têm o seu peso, mas a maioria dos
“desencontrados” enquadram-se nas primeiras causas apontadas. Cada um de
nós é um Universo Humano que nasceu para Viver e não só para existir
amargurado! Como eu lamento ter conhecido tão profundamente este caos
humano que buscam, buscam … e por vezes já bem enfermos, nem sabem
sequer que buscam a sua verdade intrínseca!